Ideologias são criminalizadas, uma de cada vez, para que o bastão do poder possa ser passado ao próximo, escreve André Marsiglia
Com as eleições de 2018, considerou-se que o bolsonarismo ganhou as massas pelas redes sociais. A esquerda, então, iniciou uma progressiva criminalização do pensamento de direita. A narrativa a se espalhar foi a de que a esquerda progressista representava mais que uma alternativa política; era uma saída civilizatória.
O Brasil jamais foi civilizado. A maior parte dos políticos brasileiros sequer sabem o que é direita ou esquerda e a ideologia é para a maior parte deles mero instrumento de acesso ao poder. Mesmo assim, fizeram crer que o pensamento conservador era o mal do país e o progressismo, a sua salvação.
Tomaram as ideologias de direita como sinônimo de bolsonarismo e o bolsonarismo como sinônimo de imbecilidade –alguns deles, tenho que reconhecer, ajudaram bastante neste intento. O fato é que tudo aquilo que era de direita passou a significar barbárie.
Atualmente, é dessa forma que a história do Brasil é contada pelo governo petista e pelas instituições de Estado que com ele se relacionam ou a ele se submetem. Tudo que é progressista é bom, é moral, visto como a coisa certa a se fazer e a se pensar, ao passo que todo conservadorismo é lixo. Todos que se encaixam no rótulo liberal são vistos como fascistas ignorantes. O pensamento de direita foi criminalizado, transformado em uma blasfêmia à democracia, algo perigoso e que deve ser combatido.
Não à toa, recentemente, o ministro Barroso se sentiu confortável para dizer a uma plateia de estudantes de esquerda: “derrotamos o bolsonarismo”. Ele, provavelmente, não quis dizer só “elegemos Lula”, mas “derrotamos o mal”. Não à toa também os dentes rangendo dos ministros do Supremo aos réus do 8 de Janeiro e seus olhos enxutos ao meterem-lhes nas grades por 17 anos.
No entanto, o processo é cíclico. O poder da esquerda governista também começará logo a incomodar. Os políticos entendem pouco de ideologia, mas sabem muito de poder. Quando o governo petista e seus pares concentram camadas exageradas dele sem as repartir com ninguém, flerta com a possibilidade de que a ideologia a ser criminalizada amanhã seja a sua. Algo que, aliás, já ocorreu e mesmo assim o petismo não aprendeu nada.
O mesmo poderá acontecer também com os ministros do Supremo. Emparceirados com as pautas progressistas do governo e seduzidos por sua própria voz, não percebem que seus excessos incomodam e alimentam a possibilidade de que o carrossel da história os transforme em vilões para que outros heróis surjam.
O poder muda de mãos nesse país como quem muda de roupa, as autoridades se submetem ao jogo político como um doente terminal à morte. As ideologias são criminalizadas, uma de cada vez, para que o bastão possa ser passado ao próximo. Tudo por aqui muda só para que o poder possa ser usufruído por todos. Por todos, menos pela população –óbvio.