Como confiar na sinceridade de quem propõe uma regulamentação com a premissa de que a direita utiliza a internet para desinformar, escreve André Marsiglia
Um importante assunto que tomou as páginas dos jornais na última semana foi a revelação de que um time de influenciadores de esquerda, orientado pelo governo, vem promovendo propaganda e desinformação nas redes.
O irônico é que provavelmente por trás do grupo estão autoridades que nos dizem dia e noite que a direita é a grande responsável pela propagação de desinformação no país, justificando com isso a necessidade imperativa de que redes sociais sejam reguladas.
Até ministros do STF já caíram nessa esparrela. Roberto Barroso, ao defender a regulação das redes, chegou a filosofar, em artigo para este Poder360, que “populismo pode ser de direita ou de esquerda, mas a onda recente tem sido caracterizada pela prevalência do extremismo de direita, frequentemente racista, xenófobo, misógino e homofóbico”.
A desinformação vem tanto da direita quanto da esquerda, mas a percepção do ministro é consequência da blindagem que se faz da desinformação esquerdista, agora revelada. Uma matéria do jornalista Cláudio Dantas, publicada em seu perfil no X em 7 de junho, vai além e mostra que entidades apoiadas pelo governo promovem estudos e fazem monitoramentos seletivos de desinformação.
Nesse lamentável contexto, como confiar na sinceridade de quem propõe regular as redes a partir da premissa de que a direita utiliza a internet para desinformar? Serão nossas autoridades ingênuas a ponto de se valer de propaganda desinformativa e, ao mesmo tempo, acreditar que a desinformação torna urgente a regulação das redes?
Difícil crer. Quase ofensivo pensar que temos pessoas ocupando cargos tão relevantes com tão pouca malícia e sagacidade. Mas a outra opção não é melhor. Teremos de concluir que o que está em jogo é a percepção de que a direita consegue se promover melhor nas redes, obter votos e ganhar espaço público. No lugar de combater seus argumentos, seus críticos combatem sua existência, chamando suas ideias de radicalismo, seus adeptos de extremistas e nomeando suas crenças políticas como propagação de desinformação.
Como a esquerda não consegue adesão das redes, apela para a deslegitimação do discurso da direita, para o controle do discurso em geral. E ainda quer que acreditemos que está, com isso, higienizando o debate público e político, promovendo a liberdade de expressão e a democracia –quando, na verdade, torna a liberdade de expressão a promoção de uma voz única, e a democracia o local de repouso de uma exclusiva variante política: a progressista.