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Não se enganem com o barulho, o Brasil da censura é silencioso

O que mantém o apoio taciturno aos nossos censores togados é uma certa dose de medo salpicada por cinismo, escreve André Marsiglia

Houve quem acreditasse, com sinceridade, que a democracia brasileira esteve de fato por um fio, que a culpa foi de Bolsonaro, que a salvação seriam Lula e a espada vingadora do STF. 

Eleito Lula, inelegível Bolsonaro, tornou-se impossível seguir acreditando nessa narrativa. Então, uma nova história foi criada: a de que o risco não era exatamente o ex-presidente, mas o bolsonarismo espalhado, sobremaneira nas redes sociais. Para dar ares internacionais ao enredo, nos contaram que tudo fazia parte de um extremismo global de direita, que vem tomando conta dos governos do mundo todo.  

Dessa forma, seguiu sendo possível ao governo petista não apresentar projeto algum ao país, já que apenas estar no poder seria um feito suficiente. Possível ainda que o poder desmesurado da Suprema Corte fosse mantido e, enquanto combatentes do suposto extremismo, estivessem acima do bem e do mal e além dos limites constitucionais impostos. 

Essa nova narrativa do governo e do STF foi mais indigesta e difícil de acreditar. Alguns setores mais intelectualizados da esquerda e núcleos de “isentões” não puderam ser tão tolos a ponto de crer que a nossa democracia estivesse ainda por um fio, e passaram a desconfiar do governo e a questionar o STF, mas em silêncio. 

Jordan Peterson, em um de seus livros, diz com acerto que sistemas totalitários são sustentados essencialmente pela mentira. A mentira é seu princípio de governança. E qual a mentira mais comum senão o silêncio? Deixar para lá. Acreditar que não é contigo. O que mantém hoje em dia nossos censores apoiados é uma certa dose de medo, salpicada por cinismo, resultando no silêncio.

Quando a censura do STF atinge a grande imprensa, como ocorreu na semana passada em relação a uma reportagem da Folha de S.Paulo sobre Arthur Lira, ou há alguns meses, com a tese censória que responsabilizava a imprensa por declarações de seus entrevistados, os editoriais dos jornalões se exasperam, seus jornalistas se animam a falar, a OAB sai da toca. Mas voltam todos no dia seguinte ao seu habitual silêncio. 

O STF sabe disso, tanto que recuou rapidamente da censura à Folha e recebeu com dócil acolhimento as reclamações sobre sua tese contrária à imprensa. Pois assim, pode novamente nos lavar o cérebro com discursos sobre o risco de uma extrema-direita mundial e a necessidade de se combater o ódio nas redes. 

A imprensa volta a receber prêmios, a Suprema Corte e o governo voltam a criminalizar apenas o discurso da direita, as manchetes tornam a ser complacentes com a situação do país, e seus críticos pontuais se esquecem ou fingem não ver que, nos porões do Brasil do silêncio, o país da censura está a pleno vapor.