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As antiolimpíadas identitárias

O projeto woke não trata mais apenas de promover a inclusão social de excluídos, mas de fazer estas pautas ocuparem de vez o centro do poder político

Toda a gigantesca tradição olímpica sempre jogou em favor da união política dos povos. Nada foi tão potente quanto o esporte na tarefa de fazer com que nações arranhadas por dissidências de toda ordem se unissem em prol de um objetivo comum. Conhecendo esse ativo esportivo mobilizador, governos fizeram das vitórias de suas equipes a vitória de seus governos; a escolha de seu país como sede olímpica uma conquista de sua gestão. Em razão desse ativo, diferenças políticas históricas foram postas de lado, ao menos por alguns instantes, durante o percurso dos séculos olímpicos.

A França decidiu pegar toda essa história incrível e jogar no lixo. O que se viu na abertura das Olimpíadas, com personagens woke e identitários ridicularizando uma das cenas mais icônicas e simbólicas da religião cristã, a “Santa Ceia”, pode soar a muitas pessoas como um ato revolucionário moral, mas não passa de uma indecência política, pois subverte o princípio olímpico de união, que justifica a cada 4 anos colocarmos o esporte como centro das nossas atenções no mundo inteiro.

Olimpíadas já foram utilizadas como um palanque político para denúncias ou promoção de ideias, mas um palanque que intencionou sempre a união dos povos. O que se viu foi a subversão da razão de ser das Olimpíadas, um gesto antiolímpico identitário.

Antes que algum leitor chato me mande uma mensagem –e muitos mandam– dizendo que eu, um defensor da liberdade de expressão, não posso condenar a manifestação, respondo: a abertura do evento está coberta pela liberdade de expressão, minha condenação ao ato não é jurídica, mas política. É neste último campo que se torna não só condenável, mas uma tolice que mancha a história do evento.

O projeto woke parece evidente: não se trata mais apenas de promover a inclusão social de excluídos, mas de fazer estas pautas ocuparem de vez o centro do poder político, algo que na França é fato consumado. No Brasil, o percurso será mais longo, no entanto, artigos como de Jamil Chade, no UOL, que trazem no título “Cerimônia enfurece extrema direita que pede boicote e fala em sacrilégio”, colocam o movimento identitário em oposição à direita, evidenciando que o entendem como uma corrente política, não mais só como um movimento social.

Estar no centro do poder político e usar as Olimpíadas para isso, como disse, não é uma ambição nova; no entanto, são poucos que o desejam para dividir pessoas, para cindir países, para corromper a união que ideias como a olímpica promovem. Essa é a novidade e o perigo: desejar o poder para dividir, para corromper o que existe. Demorou muito para o mundo de hoje ser construído. Mas será rápido para que se esfacele diante dos olhos tolos dos ingênuos.