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A morte da rainha e a política degenerada, por André Marsiglia

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Nesta última quinta-feira, dia 8, às 18:30, o palácio de Buckingham anunciou que a rainha Elizabeth II havia falecido pacificamente no castelo de Belmoral, na Escócia, aos 96 anos de idade. Nas redes sociais, o burburinho foi imediato. Uns brincaram que o príncipe Charles teria de começar a trabalhar aos 73 anos, outros que a rainha tinha visto de tudo nessa vida, menos o Palmeiras ganhar um mundial.

Eu mesmo, pouco antes do falecimento, divulguei em meus perfis uma vitória judicial na qual o ministro Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), havia derrubado censura imposta a uma reportagem do site “O Antagonista”, acolhendo o pedido que, como advogado do veículo, eu havia feito de cassação da decisão de primeiro grau e determinando, de forma inédita em casos envolvendo liberdade de imprensa no Brasil, que o juiz fosse obrigado a proferir nova sentença. Com a notícia da morte, brinquei no Twitter que a decisão de Toffoli me surpreendia mais do que o falecimento da rainha.

Entre brincar e comemorar a morte de alguém, no entanto, vai uma longa distância. E nesse mesmo dia diversos militantes políticos festejaram a morte de Elizabeth.  Um candidato -que não nomearei para não lhe dar palanque- chegou a dizer que abriria uma cerveja para comemorar a morte de Elizabeth, lamentando apenas que seu falecimento não tivesse se dado pelas mãos da classe trabalhadora. Não sou favorável à monarquia, desconheço quem o seja, mas me faz descrer do mundo notar que se festeja a morte de alguém, colocando-se ideologias políticas acima de qualquer sentimento mínimo de humanidade.

Não importa de quem seja a morte: da rainha Elizabeth, de Olavo de Carvalho, da esposa de Lula, tanto faz. As ideologias devem servir ao ser humano, são um instrumento e um veículo de nossa visão política em busca de uma convivência harmônica. Pensar o oposto, que os seres humanos devem servir às ideologias e à política, é degenerar a política e tornar o homem perverso. Algo que não calha a ninguém, seja de esquerda ou de direita, tenha fetiche por coroa e cetro, faixa presidencial ou martelo e foice.

Mesmo passados duzentos anos de nossa independência, seguimos imersos em visões políticas muito pobres de espírito. Só não brocha quem não pensa. O Brasil, sobretudo no período eleitoral, tem exposto o nosso pior e ainda nos piorará muito. Acreditem.

Publicado na revista Crusoé.