Muito se fala em fake news atualmente, sobretudo após as últimas eleições norte-americanas, que elegeram Trump, supostamente com o auxílio de robôs (bots).
Propomos um exercício. O impacto dos robôs nas eleições de Trump, por não ter sido matematicamente comprovado, poderia ser enquadrado como fake news?
No nosso entender, fake news não podem ser vistas simplesmente como notícias mal apuradas, obtidas de fontes mal informadas, resultando em publicações incapazes de representar a exata verdade. Isso não são fake News, mas, sim, jornalismo ruim, que sempre existiu, até por ser a verdade um conceito equívoco.[1]
A nós, fake news seguem bem conceituadas por “notícias sem dono”, criadas, falsificadas ou adulteradas por anônimos. E, nessa esteira, sem dúvida, a tecnologia, os rápidos meios modernos de difusão da informação, e o descuido do público médio, contribuem para a viralização de tais conteúdos fakes. O boato, o diz que me disse, o comentário maldoso, tornaram-se rápidos e sistematizados, mas, nem a existência das notícias fakes, nem a sua disseminação, são novos em nossa sociedade.
Pois bem, se aceitável a premissa de que as fake news não são um conceito novo, restará saber se o impacto delas, sobremaneira em tempos de eleição, é relevante.
Assim pensamos: mesmo em meio a milhares de informações dispersas na internet, é dos veículos de imprensa e dos jornalistas de renome o papel de curadoria do conteúdo disperso na rede, o papel de carimbo de credibilidade.
O jornalismo atinge a praça central, construindo o debate público, as fake news, por mais que se espalhem, tem aderência limitada. Basta notar que a tão temida reverberação das fake news nas últimas eleições norte americanas teve como consequência a imprensa de lá ganhar mais espaço e credibilidade junto aos (e)leitores.
Em outubro próximo, será dos profissionais de imprensa o importante papel de chancelar conteúdos. A nosso ver, essas eleições terminarão salvas das fake News. Mas só das fake news.
[1] Joana Aguiar e Silva, em sua obra, “A prática judiciária entre Direito e Literatura”, Editora Almedina,2001, p.43, parodiando Proust, diria que a verdade é uma mentira!
Artigo publicado originalmente no Migalhas.