Enquanto o pensamento de direita não for legitimado como parte do jogo político, teremos no poder uma troca de bastão entre amigos, escreve André Marsiglia
Ouvi de um analista político progressista que Lula se uniu a Geraldo Alckmin nas últimas eleições para que o Partido dos Trabalhadores pudesse finalmente se assumir como uma opção alternativa aos que desgostam da esquerda. Para o analista, o PT é hoje um partido de centro e a esquerda é composta de partidos como Psol ou PCO. Esse movimento, na visão dele, tem sido importante para blindar a democracia contra a extrema-direita.
Curioso que, nesse quadro pintado, só existe a extrema-direita, a direita mesmo não existe. Como extremar um pensamento inexistente, o analista não explicou. O raciocínio dele pode ser uma tolice, mas mostra bem como funciona a cabeça de quem sai por aí chamando todo opositor de “extrema-direita”.
Para essas pessoas, na melhor das hipóteses, o pensamento de direita é um lugar tão desconhecido como é o Brasil aos estrangeiros que respondem que nossa capital é Buenos Aires. Na pior das hipóteses –a mais provável– fundir o pensamento de direita ao prefixo “extrema” é uma forma de criminalizar a oposição e se manter no poder.
Afinal, extremos são combatidos com controle e prisão, não com debate e eleição. A direita ser enxergada como um antro de radicais é conveniente para impedir que seus adeptos e candidatos sejam incluídos na política.
A extrema-direita não existe no Brasil –é só um espantalho político da esquerda. Há alguns meses, para este Poder360, em um artigo intitulado “A criminalização do pensamento de direita”, escrevi:
“A narrativa que se espalhou foi a de que a esquerda progressista representava mais que uma alternativa política; era uma saída civilizatória e tudo aquilo que era de direita passou a significar barbárie O pensamento de direita foi criminalizado, transformado em uma blasfêmia à democracia, algo perigoso e que deve ser combatido”.
Enquanto o pensamento de direita não for legitimado e respeitado como parte do jogo político, teremos no poder uma troca de bastão entre amigos, parceiros. Os adversários serão sempre vistos como o mal, como um perigo à democracia. Sendo que o perigo é justamente a ausência de possibilidade de alternância ideológica.
Criminalizar pensamentos sob a desculpa esfarrapada de que assim se preserva a democracia, talvez, seja o ato mais antidemocrático cometido nos últimos tempos em nossa República mequetrefe.